Luiz
Marques Sá Junior₁
Vivemos nestes tempos um conflito
ideológico e espiritual na esfera política o qual o mundo político não pode
conter, cientistas sociais para entenderem as sociedades procuram dividi-la em
setores para melhor compreensão, daí surge o universo político, religioso,
econômico e outros. Mas a realidade social é que as coisas não estão tão separadas
assim como querem os cientistas sociais, na verdade todas essas áreas estão mutualmente
envolvidas como um emaranhado de fios que se entrelaçam formando as sociedades
humanas.
Dessa maneira é a nossa sociedade, possuidora
de várias teias e fios que formam essa conjuntura social e complexa. Destes fios
um dos mais importantes que é responsável pela formação de nossa cultura social
é o viés religioso, em especial o viés cristão. Somos essa sociedade chamada de
judaico-cristã ocidental, pois toda a história de nossa sociedade é um reflexo
do que foi produzido por influência da religião cristã, essa herança é tão
profunda e forte em nossa cultura que não podemos se quer olhar para um mínimo
detalhe cultural sem que a influência do cristianismo não seja percebida.
Cidades como São Paulo, Estados como Espírito Santo, monumentos como o Cristo
Redentor, são reflexos em nossa cultura dessa influência. Na verdade a chamada cultura
ocidental deve a sua existência, e tudo que de avanço e conquista legou à
humanidade ao cristianismo. O nosso próprio sistema político atual dividido em
três poderes, executivo, legislativo e judiciário é uma representação da
tri-unidade divina, Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e é também um reflexo da
família tradicional pai, mãe e filhos. Todos esses valores, querem os inimigos
da cristandade ou não, são valores cristãos, que cresceram e se desenvolveram exclusivamente,
em um primeiro momento no seio desta sociedade.
Mas nem tudo são flores, em nome de Deus, o Deus cristão,
injustiças foram feitas, erros cometidos, atrocidades ocorreram (Talvez seja essa uma das razões pela qual no
decálogo se recomende não usar o nome de Deus em vão).
Como uma reação a erros cometidos, que um anseio por parte
de alguns por se livrar dessa ética, dessa moral, desse Deus cristão, que
movimentos surgiram na história do ocidental que visavam cumprir esse processo
libertário. Esses movimentos tiveram início com o Renascimento, passando pelo Iluminismo
e culminado com o massacre da Revolução Francesa. Todos esses processos
revolucionários possuem um herdeiro, um recipiente, que hoje concentra em si
toda essa luta humana libertária, de tudo aquilo que impõem uma ordem, uma
ética, uma moral, esse recipiente é o comunismo.
O comunismo é um movimento que nasceu como uma reação as
injustiças cometidas pelo sociedade industrial capitalista que estava nascendo
e se desenvolvendo. Atrocidades e injustiças foram cometidas pelo capitalismo,
e ainda são até hoje. Mas não pelo fato do capitalismo ser ruim em si mesmo,
mas pelo fato dos homens serem maus. Esse sistema não é algo que tenhamos que
destruir, mas é algo que precisamos modificar mediante a ética e a moral
cristã. Capitalismo sem cristianismo é selvageria.
O comunismo por sua vez como o próprio nome diz é um
movimento de viés econômico e social que procura tornar todos iguais, comuns.
Mas essa busca pela igualdade fez do comunismo uma das maiores máquinas
genocidas da história, onde se estima que foram mais de 100 milhões de pessoas
mortas no mundo inteiro, e isso porque a utopia comunista não reconhece a natureza
humana corrupta.
A espécie de comunismo que vamos tratar aqui resumidamente
é o científico, que vai surgir através das reflexões de Friedrich Engels e Karl
Marx. Veremos alguns pontos que tornam o comunismo científico marxista
incompatível com a fé cristã.
Essa incompatibilidade primeiramente encontra-se já no seu
nascedouro, no próprio parto do movimento comunista, ou seja, na sua
metodologia interpretativa do mundo, o chamado materialismo histórico
dialético, que é a base do que se convencionou chamar de marxismo.
O materialismo histórico dialético, é como o próprio nome
diz, uma visão materialista da história, onde tudo que não é matéria deve ser descartado,
tudo que é abstrato deve ser esquecido, não levado em conta. Uma vez que a
ciência moderna defende a evidencia histórica dos fatos para ser considerado
ciência, o materialismo histórico dialético defende justamente essa
interpretação da história. É ai que reside a base do conflito entre cristianismo
e comunismo, pois os dogmas cristãos, seus valores e seu Deus, são considerados
pelos materialistas como algo abstrato, metafísico, fora da matéria, portanto, não
digno de ser levado em conta.
O problema, e as implicações dessa visão para a
humanidade é que uma vez que você aceita o “vazio” do materialismo e retira do
ser humano a sua essência, para formular uma “verdade” interpretativa da
sociedade, todo um mundo social passa a ser construído a partir dessa
interpretação.
Se só o que importa é a matéria, onde fica o amor? E a
paixão? Os pensamentos e os sentimentos, como provar sua existência? E Deus, e
a alma e o espírito? Como mensurar essas coisas, que são próprias dos homens? e
se não existe Deus, não existe juízo, não existe lei, não existe prestação de
contas, não existe juízo final. Tudo é permitido, tudo é liberado, basta você
querer! É ai que o caos se instala, que injustiças são feitas, que milhões são
desviados, porque não se está preocupado com a moral, com a ética, o que vale é
alcançar a tão sonhada sociedade comunista, não importa os meios. Ou seja, essa
visão de pirata, que enxerga o mundo com um tapa-olho, só vendo um lado, um
viés, o lado esquerdo, é no mínimo uma visão incompleta pra não dizer
equivocada, pois como posso eu formular soluções sociais para problemas sociais,
suprimindo em minha interpretação e análise a essência do principal componente
dessa sociedade que é o espírito e a alma humana. Como posso formar uma
sociedade boa, com homens maus? justa, com injustos? Como posso eu achar que
minha visão é completa, que eu estou fazendo a leitura correta, se na minha
própria abordagem elimino o principal aspecto humano que é seu ser interior,
seus pensamentos e sentimentos, a sua real natureza. Afinal não somos um
pedaço de pau oco, ambulante, vagando neste mundo. Como diz a tradição cristã,
somos um espírito, temos uma alma e habitamos num corpo (a matéria é a parte
menos inteligente de nosso ser).
Outro fator que precisamos refletir é que se queremos ser todos comuns, iguais, isso nos levará inevitavelmente a perda da liberdade, pois se todos devem ser iguais, onde se encaixará em nosso meio o que é diferente? Pois o que me torna livre é o fato de eu ser eu mesmo e não uma cópia dos demais, é a minha diferença que me faz livre. No caso de nós cristãos uma diferença ética e moral no meio de um mundo perdido.
Outro fator que precisamos refletir é que se queremos ser todos comuns, iguais, isso nos levará inevitavelmente a perda da liberdade, pois se todos devem ser iguais, onde se encaixará em nosso meio o que é diferente? Pois o que me torna livre é o fato de eu ser eu mesmo e não uma cópia dos demais, é a minha diferença que me faz livre. No caso de nós cristãos uma diferença ética e moral no meio de um mundo perdido.
Quero lembrar aqueles que tem fé, que a primeira vez que
um grupo desejou um comunismo, não foi neste mundo material, foi no mundo
espiritual, celestial, nos céus. Foi lá que Lúcifer, o anjo portador da luz
liderou uma rebelião de anjos contra o seu próprio criador YHWH, pois os mesmos
queriam uma igualdade com Deus; “serei semelhante ao altíssimo!” (Isaías
14:12-14). Ainda que hoje como cristãos nascidos de novo, somos todos iguais
perante Deus como filhos e herdeiros em Cristo, precisamos compreender que
neste mundo caído que vivemos, precisamos de uma ordem, de autoridade, para que
mediante essa ordem possamos trabalhar para a restauração deste mundo caído que
jaz em trevas.
Por fim quero lembrar que o
comunismo surge como um substituto da religião cristã quando se propõem a
oferecer um paraíso na terra, no caso a sociedade comunista, igualitária, onde
as barreiras que separam as pessoas e as classes sociais se desintegram e se
dissolvem para se estabelecer essa sociedade perfeita, utópica e abstrata.
Nisto reside uma das maiores contradições de Marx que ao negar todas as
abstrações, sugere ele mesmo uma abstração que é essa sociedade “perfeita”
comunista, pois tal sociedade nunca funcionou em nenhum lugar do mundo, e nunca
existiu realmente, somente no imaginário de Marx, Engels e dos comunistas.
₁Luiz Marques Sá Junior – Teólogo,
bacharelando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amazonas, pastor
da IDPB – Comunidade Cristã Integral – casado com Marcilene M. M. Sá, pai de
Jeremy Lucas e Joshua Emanuel.
Este
artigo pode ser lido na íntegra no blog:
https://blogdoluizjunior.blogspot.com